19 de abril de 2008

De nada adianta

A enfermeira entrou no quarto e disse, cautelosamente:

- Você precisa assinar a autorização.

O choro, contido, escapou em um impulso.

- Não tem outro jeito?

- Ele não está respondendo a nenhum tratamento, nenhum estímulo.

- Mas...

Outro impulso levou a voz e trouxe as lágrimas. A enfermeira aproximou-se e, em um gesto de solidariedade, pousou a mão sobre os ombros desconsolados.

Após pegar de volta a autorização, com assinatura em tinta e autenticação em lágrimas, a enfermeira disse:

- Se você quiser despedir-se, podemos aguardar.

- Não quero!

Disse, decidida, enquanto esfregava as lágrimas e completou:

- De nada adianta, não agora.

A enfermeira acompanhou-a para fora da sala.

Eu, ali deitado, ouvi tudo. Mas fiquei inerte, fingindo-me de morto.

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