29 de abril de 2008

Angustiado

Eu estava conversando com ela naquele quarto vazio. Uma porta, um sofá e nós dois. Uma lâmpada no centro, fraca, escorrendo pelas paredes amareladas até o piso de madeira.

O assunto da conversa: qualquer um, nenhum, não lembro. Só lembro que a luz foi ficando fraca, começou a falhar e a escorrer de volta para a lâmpada, e a sala foi ficando escura. Ela então disse:

- O clima está ruim aqui. Uma energia ruim.

Naquele cenário macabro, apenas a luz da rua, ou da lua, atravessando a janela, iluminava a parede amarela às costas dela. Ela já não estava mais iluminada. Sombras finas e tortuosas, de alguns galhos lá de fora, formavam-se às suas costas enquanto uma sombra maior lhe cobria o rosto. Eu não conseguia mais notar nenhum detalhe. Rosto, boca, nariz e olhos, todos fundidos em uma sombra, inerte, imóvel, muda.

Tentei tocá-la, mas tive medo, já não a reconhecia mais naquela silhueta. Tentei falar algo, não consegui. Levantei angustiado. Peguei o telefone e pensei em ligar para ela, desisti quando vi a hora. Não consegui dormir de novo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário