25 de fevereiro de 2010

Saciada

Nos eventos sociais, ele saciava-se de petiscos e aperitivos

Ela não dava a mínima, contato que fosse bem servida, como prato principal

23 de fevereiro de 2010

Forca

Viviam entre palavras cruzadas, desafios de lógica e jogos de memória

No passatempo da rotina, para fugir da monotonia, discutiam a relação

19 de fevereiro de 2010

18 de fevereiro de 2010

Cidade de contrastes

Por estas vielas imprevisíveis, durante a madrugada, vejo algumas coisas que até Deus duvida.

E outras que me fazem duvidar dele.

10 de fevereiro de 2010

Bons costumes

Todo dia depois do almoço, quando ele caia no sono bem em cima do carrinho de mão, ficava igualzinho tartaruga de ponta cabeça. Eu e os outros rapazes ficávamos sentados no chão, encostados em alguma sombra. Só ele tinha coragem de dormir no carrinho, todo curvado. Mas ele era assim mesmo, não tinha vergonha de nada que desse na telha de fazer. Trabalhava igual todo mundo, nem mais nem menos, mas trabalhava cantando, coisa que a gente não fazia por falta de costume - ou talvez por medo. Tinha mulher igual a todos os outros, mas levava ela para dançar e, de vez em quando, preparava a janta, coisa que a gente, homem de família, não faz por cansaço - ou talvez por costume. Nunca entendemos aquele jeito diferente dele fazer as coisas no mundo, mas ele parecia mais feliz. Talvez fosse a gente que estivesse imobilizado, igualzinho tartaruga de ponta cabeça.

9 de fevereiro de 2010

Descaminhos

Torturando-se, refez todos os passos daquela noite enquanto reconstruia mentalmente a tragédia: o caminho mais curto, os olhares receosos, o grito e os dois disparos, secos, à queima-roupa, seguidos pelo silêncio. Por algo tão banal que ele nunca conseguiria entender.

No entanto, não desistiu, tentou decifrar os porquês, percorrendo e examinando cada detalhe daquelas vielas putrefatas, até a estafa. Naquele cenário sombrio, entre tantas lembranças drásticas, perdeu-se do fio da razão, sua única esperança de retornar, são e salvo, à rotina. No centro do labirinto, cercado por medos, prometeu nunca mais piscar os olhos.

Encontraram-no em um canto, com os olhos bem abertos, ressecados.

8 de fevereiro de 2010

5 de fevereiro de 2010

4 de fevereiro de 2010

Mercadofobia

Uma a uma, retirou três bananas do cacho, para não ter que pesar o talo. No carrinho já tinha arroz e feijão, farinha, manteiga e pão. Nem escolheu maçã que não ia dar para levar. Muito menos o queijo - fosse fatia ou pedaço. Agradeceu, quando viu o preço, que a patroa do marido sempre arrumava um punhadinho de carne.

Finalizadas as compras - e as economias, andava rápido pelos corredores, aquilo tudo a deixava assustada, ainda havia de chegar o dia, desventura anunciada, em que não conseguiria levar mais nada.

3 de fevereiro de 2010