7 de janeiro de 2005

Um dia é da pesca

O garoto foi pescar com o pai, adorava esse tipo de programa. Ele e o pai juntos, viagem até o rio, aquela sensação de acampar — mesmo estando hospedado em um bom hotel — e pescar. Só tinha uma coisa que o incomodava: limpar os peixes. Ele não conseguia enfiar uma faca nos pobres peixes e arrancar-lhes as tripas com as próprias mãos.

Ele e o pai passaram o dia pescando no barranco, cada qual com seu baldinho. Os baldinhos encheram-se, as horas também e o pai começou a limpar os peixes que pegou. Enfiava a faca, colocava no rio e tirava as tripas. Enfiava a faca, colocava no rio e tirava as tripas.
O filho já estava enjoado e o pai, volta e meia, ainda falava:

— Olha, esse aqui tem ova! — E levantava as mãos exibindo algo não identificável e bem sujo de sangue.

Ao terminar de limpar o balde todo, o pai virou-se para o filho e perguntou:

— Não vai limpar os seus?

— Ah. Já limpo. Empresta a faca?

O pai deixou a faca e foi andando na direção do hotel.

Agora era só ele e os peixes. Olhou para o balde, faca na mão, suor na testa, olhos de peixe e mãos tremendo. Olhos nos peixes, mão no balde, suor na testa e hesitou. Não conseguiu pegar nenhum. Ficou apenas pensando na crueldade que era fazer aquilo com os animais.
Pensou mais um pouco e decidiu que ia soltá-los, todos. Decidido, foi até o balde e pegou o primeiro peixe na mão. O peixe se debateu, pulou contra seu rosto, fazendo-o gritar, escorregou entre suas mãos e foi para o chão.

Ao lado, dois moleques, que acabavam de chegar, riam da cena e o imitavam em gestos e no grito.

O garoto não teve dúvida, olhou bem nos olhos dos moleques e enfiou a faca. Depois colocou no rio, tirou as tripas e repetiu o processo até esvaziar o balde. Sem culpa ou remorso. Afinal, era ele ou eles.

5 de janeiro de 2005

Sentido

Ele achava que não fazia diferença e que não tinha porque existir

Aua vida não tinha nenhum sentido e nenhuma direção

Até que leu a seguinte frase "O que você faz em vida ecoa pela eterninade"


Merda!


Merda!




Merda

4 de janeiro de 2005

O começo

Tinha tudo para ser uma noite tranquila até ele se deparar com aquela garota. Ela usando meia listrada colorida, all star, uma camiseta de uma banda dessas que ninguém sabe o nome e óculos. Para completar o visual, arrumava o cabelo para parecer desarrumado.

Estavam na mesma festa, mas não juntos. para falar a verdade nem se conheciam. Pelo menos ela não o conhecia. Se dependesse dele já teriam se conhecido há um bom tempo, aquele rosto já era inconfundível, já tinha reparado até na estranheza do modo como ela segurava o cigarro. Frequentavam alguns lugares em comum, a cidade não é tão grande, as opções não são muitas, acabavam se cruzando.

Tímido, ele a observava. Ela nem dava bola, continuava dando tragadas, mexendo no cabelo, batendo papos e olhando em volta.

Ele continuava ali, parado, observando. Ficava pensando em fazer algo, no que devia fazer, no que devia falar, se devia falar e no que ela responderia. Ele pensou, pensou melhor e decidiu que ia falar com ela. Sempre acreditou que não podia perder oportunidades de conhecer gente interessante.

Caminhou na direção dela, um tanto quanto tenso. Ele se aproximou, ela virou-se e, então, ele disse:

- Prazer, eu sou ninguém.

1 de janeiro de 2005

Eterna dúvida

- Mas, vale mesmo a pena ?

- Você só vai saber se tentar...

- Vou ?

- É... Quem sabe, é provável

- Provável? Então não é certeza?

- Nada é certeza

- Então porque você disse que eu saberia ?

- Ah, você sabe. É essa época que nos faz tender ao otimismo

- É... sei

- Odeio o ano novo

- Eu também! Malditas resoluções e ilusões