19 de novembro de 2010

Para poucos

Já era noite e a lua sorria, ainda que meio amarelada e entrecortada por algumas nuvens de chuva. Uma ou outra estrela despontavam naquele céu encoberto - de vez em quando era avião, mas a gente percebia logo a diferença. Entre as outras luzes por ali, só os vagalumes e o nosso lampiãozinho, desses de pilha mesmo, já que eu morro de medo de mexer com aqueles a gás.

Com a maré baixando, o mar afastava-se cada vez mais do cantinho onde nos assentamos, perto do coqueiro solitário, que era para ficar mais fácil de achar a trilha para o camping na hora que desse vontade de dormir. Ficamos ali sei lá quanto tempo, bem quietos, só observando o mar, ouvindo as ondas quebrando cada vez mais longe e os grilos cantando cada vez mais baixo. Vez ou outra, um siri deparava-se conosco e, um tanto assustado, como bichos ariscos que são, saia correndo de volta pra o lado de onde tinha vindo.

De repente, ela levantou-se para dizer que precisava fazer xixi. Eu percebi logo que ela estava em dúvida: devia fazer no mar ou percorrer toda a trilha na ida e na volta? Aí, para incentivar, eu falei para fazer por ali mesmo, era só pegar o lampião e andar em frente até achar a água. Um pouco constrangida - mas em parte aliviada - ela acatou a sugestão, pegou o lampião, o levantou acima da cabeça e seguiu em direção ao mar.

E foi naquele momento, tão ao acaso, assim que ela distanciou-se, que o espetáculo começou. Naquela praia vazia e escura, enquanto ziguezagueava para desviar dos siris curiosos e das águas-vivas abandonadas pelo mar, o único foco de luz estava irradiando dela e formava a sua volta, na areia, uma circunferência perfeita. Para mim, ela era uma estrela, em um número impecável de sapateado, seguida de perto por um holofote que vinha lá do alto, não sei de onde; Talvez fosse da lua, que, naquela hora, sem conseguir conter-se, sorria abertamente.

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