18 de novembro de 2010

O cafajeste

Com o tédio beirando os limites da sanidade, ela olhava para cima, desesperada, com o rosto todo contraído. Ao lado, na mesa, a mãe continua a conversar com uma amiga. Ela tentou armar uma birra, mas pelo olhar da mãe, aquele de castigos passados, desistiu logo. Vencida antes mesmo da batalha, decidiu prestar atenção no que falava aquela moça que estava do outro lado da mesa:

- Era sempre "minha princesa", "querida", "meu amor" - fez uma breve pausa para passar o lenço na ponta do nariz - Ele só não queria trocar os nomes!

Nesse instante a garota ficou intrigada com a situação e passou a prestar atenção na história. Permaneceu em silêncio durante o resto do desabafo - incluindo as sessões de descarrego e consolo.

No trajeto até o apartamento, ela permaneceu quieta - a mãe até chegou a ficar preocupada, mas depois achou que era sono. Ao chegar, foi direto ao quarto do casal, onde encontrou o pai já de pijama, deitado na cama e lendo um livro. Muito séria, ela disse:

- Oi, pai.

- Oi, minha princesinha!

Ela abaixou a cabeça, emburrada, e saiu do quarto resmungando:

- Cafajeste...

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