22 de junho de 2010

Inflável

No início ela só fazia a unha, e eu nem me importava, não chegava a me incomodar. Acho que foi por isso que ela sentiu-se à vontade e resolveu experimentar outras coisas.

Eu só comecei a me preocupar mesmo quando ela começou a ajeitar o cabelo. Enquanto fazia chapinha, podia me queimar a qualquer momento, bastava um movimento em falso. Sem contar que aquela barulheira do secador de cabelo abafava todo tipo de som, atrapalhava tudo.

Com o tempo, ela também começou a fazer tricô e palavras cruzadas. Com as dúvidas de sinônimos com tantas letras, eu ainda me virava bem, apesar de perder um pouco a concentração. Mas, com as agulhas, eu sentia-me em pleno combate, enfrentando um exímio esgrimista. A cada virada para o lado ou troca de posição, acabava sendo atingido por um daqueles floretes. Era horrível. Alguns meses de tricô e eu não aguentava mais, disse a ela que escolhesse: ou ela faria seus afazeres em outro horário, ou nunca mais faríamos amor.

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