14 de julho de 2009

Passageiro

Parada em minha frente, enquanto abaixava o rosto, ela começou a chorar. Em meio a lágrimas e engasgues, sussurou:

- Eu não quero que termine assim...

Eu fiquei estático, em silêncio.

Após um breve silêncio, ficando cada vez mais agitada, começou a passar a mão pelos cabelos, em claro sinal de desespero. Com as lágrimas escorrendo pelas bochechas, saltando pelo queixo e pousando sobre as pernas, precisou reunir forças para falar, com a voz já rouca, entrecortada por soluços:

- Eu ainda te amo!

Ainda que estivesse comovido, permaneci parado e calado. Eu não podia fazer nada.

Tentando apagar aquele sentimento, esfregando o rosto com a mão e, em seguida, com o braço, acabou manchando a blusa branca com a maquiagem, que a esta altura lhe cobria de maneira disforme quase metade do rosto, dando-lhe ares de uma triste figura pintada por Pablo Picasso. Neste momento, emudeceu, como se aceitasse a própria sorte e, por fim, disse com mais calma:

- Então, acho que é adeus...

Quando ela levantou a cabeça, eu desviei o olhar. De canto de olho, percebi que ela apoiou a cabeça em uma das mãos e continuou a chorar. Enquanto eu, apenas mais um passageiro, não podia fazer nada.

Um comentário:

Laís Brevilheri disse...

eu sempre leio, eu nem sempre comento. tem alguma coisa a ver com o que eu já acho esperado encontrar de você versus aquilo que é absolutamente bonito ou novo. daí, por vezes comento mais, mas eu sempre leio.

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