Dentro do ônibus, foi arremessado ao chão após uma freada brusca. Algumas pessoas, solidárias, ajudaram-no a se levantar. Ele mal agradeceu e procurou um lugar onde pudesse segurar-se e permanecer em pé. Assim que se estabilizou, colocou as mãos no bolso e percebeu a ausência da carteira. Imediatamente, soltou o ar, bufando, extremamente nervoso, e, sem saber exatamente como agir, começou a observar e a pensar. Reconstituiu o momento da queda, cada detalhe e cada movimento. Repassou e fixou os olhos em cada rosto, como numa linha de reconhecimento de suspeitos. Falava para si mesmo:
- Foi aquele do cabelinho espetado e calça larga. Tem perfil de bandidinho, só pode ter sido. Ou então aquela crente, se fazendo de santa, mas sem um pingo de honestidade, deprimente. Pode ter sido o cobrador. Cobrador é sempre malandro, dando cantadas nas mães solteiras, enganando os turistas, não se salva um. Pode ter sido qualquer um, não boto minha mão no fogo por nenhum destes... destes... humanos.
Continuou sem ação e indignado até chegar a seu destino. Sentiu-se mal, mais pelas atitudes alheias do que pelo pouco dinheiro que carregava na carteira. Desceu do ônibus e prosseguiu apenas esmiuçando cada suspeito e contando a si mesmo a ficha criminal e os maus hábitos de cada um.
Após chegar em casa, encontrou a carteira escondida, devido ao medo de assalto, em um bolso interno da mochila. No ônibus, ninguém suspeitava do que se passava na cabeça daquele pobre sujeito que eles ajudaram a se levantar.
Exercícios literários e outras peças mal acabadas que não são adequadas para o comércio como produtos culturais.
26 de junho de 2008
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O triste retrato da cidade enlouquecida a ambulância detida no descaso do tráfego
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Tal qual a nata que era como se julgava ela não se misturava Com ares um tanto blasé apenas flutuava, pomposa sentindo-se a dona do lago
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No centro do auditório, a justiça permanece sentada e vendada, enquanto o apresentador aponta para um político corrupto, depois para um ladr...
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