Estavam ali as duas vizinhas de porta do condomínio, bebericando um café quente e colocando o papo em dia, cada qual em seu batente, quando a garota entrou correndo pelo corredor, interrompendo a conversa, e, arfando, eufórica, perguntou:
- Mamãe... - respirou fundo e continuou sem mais pausas - A Larissa pode vir aqui brincar comigo de casinha hoje depois que eu voltar do colégio?
Sem conseguir disfarçar a cara de nojo, com olhos meio fechados e bico cerrado, a mãe concordou com a cabeça, enquanto dava licença para ela entrar, e depois disse:
- Tudo bem, filhinha! - Mas complementou, em um tom mais elevado e áspero - Mas nada de ficar fazendo barulho até muito tarde, você sabe que seu pai chega do trabalho muito cansado.
A vizinha, com a curiosidade dos que pouco se ocupam das coisas próprias, questionou-a sobre a reação, ao que ela prontamente respondeu:
- Essa Larissa é nossa ex-vizinha. A menina é branca de dar dó e tem a pele cheia de manchinhas, toda "sarnentinha", parece doente, sabe como é? Dá uma agonia só de ver, ainda mais nesse sol, coitada.
Ainda cruzando a sala, a garota ouviu o que a mãe disse e correu para o quarto. Ela sabia que quando a mãe tentava sussurrar, mesmo que em vão, era porque não devia ouvir. Sabia também que, logo após terminar a frase, a mãe olharia para trás para conferir se havia, por acaso, escutado algo que não devia.
Após o almoço e durante toda tarde, pensou no que a mãe havia dito, mas, ainda que tivesse algum receio, não ousaria desmarcar o compromisso com a melhor amiga. Além disso, se tanto já haviam brincado juntas, não devia ser algo que passasse de uma pessoa para outra.
Ao cair da tarde, quando Larissa chegou, apenas por precaução, trocou o beijinho por um abraço rápido. Pouco depois, quando abriram o baú dos brinquedos, começou a separar as bonecas, que sempre haviam sido das duas. Por fim, quando a "sarnentinha" abraçou a boneca preferida, esboçou um sorriso, na mesma cara de nojo da mãe, e disse:
- Pode ficar com essa...
Exercícios literários e outras peças mal acabadas que não são adequadas para o comércio como produtos culturais.
30 de agosto de 2009
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O triste retrato da cidade enlouquecida a ambulância detida no descaso do tráfego
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Tal qual a nata que era como se julgava ela não se misturava Com ares um tanto blasé apenas flutuava, pomposa sentindo-se a dona do lago
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No centro do auditório, a justiça permanece sentada e vendada, enquanto o apresentador aponta para um político corrupto, depois para um ladr...
2 comentários:
Mutcho massa, mano
É o que muitas "mães" fazem com seus "filhos".Ensinam-lhes que o que importa é que se tem por fora, ou seja , crescemos querendo manter aparências e (algumas pessoas) rejeitanto aqueles que não se adequam à manada.
Depois a culpa é de quem?!
gostei muito Rodrigo Domit
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