O conto nasceu assim: o pai dos contos plantava sementes de criatividade e os contos brotavam delas. Quando o conto nasceu, um contou para o outro, o outro contou para outro, este outro para outro, outro e assim foi. O conto veio depois da conta, mas o contador das contas veio bem depois do contador dos contos.
Certo dia o conto começou a ficar bem falado, gente importante começou a escrever sobre ele e, quando foi perceber, já estava estampado por livros, revistas e jornais. Sucesso de público e crítica, o conto fez história. O conto pregava que quem corre atrás consegue. Ele conseguiu, ganhou prêmios e tudo o mais. Estava vivendo um conto de fadas.
Mas o inevitável aconteceu: tudo que sobe tem que descer. O conto começou a se envolver com drogas, sexo e carnificinas. Passava a noite na taverna, envolvia-se em brigas, participava de rituais e organizava orgias de fazer inveja ao marquês dos contos proibidos.
Antigamente, o conto tinha um discurso de moralismo bem próximo das fábulas. Agora, não respeitava mais nada nem ninguém. Tornou-se intolerante e atacava, a golpes de machado, as igrejas, os governos, os santos e as putas. E o problema agravou-se quando o conto se vendeu: passou a defender qualquer causa ou pessoa com intenções duvidosas por apenas alguns contos.
Quando o conto começou a ficar mal falado, qualquer um contava o conto como se fosse um conto qualquer e contavam um conto qualquer como se fosse o conto. Os amigos foram se afastando na mesma medida que a fama ia acabando. Os que ficaram: nos dedos se contava.
E o conto acabou sozinho, quando percebeu que havia caído em um conto: o conto do conto.
Exercícios literários e outras peças mal acabadas que não são adequadas para o comércio como produtos culturais.
18 de janeiro de 2006
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