Algumas pessoas dizem que não
Não se deve deitar ao chão
Que não é digna essa posição
Dizem que assim você é visto por cima
Que quem passar não vai te dar a mínima
Ainda assim, é o melhor lugar para ver o céu
Exercícios literários e outras peças mal acabadas que não são adequadas para o comércio como produtos culturais.
24 de janeiro de 2006
23 de janeiro de 2006
Má interpretação
A interpretação equivocada é um grande problema
Confunde-se o substantivo "poder" com o verbo "poder"
E quem não pode, só se f...
Confunde-se o substantivo "poder" com o verbo "poder"
E quem não pode, só se f...
22 de janeiro de 2006
Cansado do tédio
Algumas vezes eu me sinto cansado
De interpretar todos os dias o mesmo papel
Alguns dias eu queria ser o mocinho
Em outros o vilão
Ter meus dias de figurante
E uns dias fora de cena
Outras vezes eu me sinto bravo
Por estar triste
Ou por estar feliz sem motivo
E queria poder resolver tudo
Com um comando simples:
Transtorno bipolar ATIVAR!
De interpretar todos os dias o mesmo papel
Alguns dias eu queria ser o mocinho
Em outros o vilão
Ter meus dias de figurante
E uns dias fora de cena
Outras vezes eu me sinto bravo
Por estar triste
Ou por estar feliz sem motivo
E queria poder resolver tudo
Com um comando simples:
Transtorno bipolar ATIVAR!
21 de janeiro de 2006
Relógio
Andando
De um lado para o outro
Passando
O sol, nascendo e se pondo
Morrendo
Se é que já não está morto
Vivendo
Na solidão de Macondo
Tic Tac
Tic Tac
Tic Tac
Bum!
De um lado para o outro
Passando
O sol, nascendo e se pondo
Morrendo
Se é que já não está morto
Vivendo
Na solidão de Macondo
Tic Tac
Tic Tac
Tic Tac
Bum!
20 de janeiro de 2006
Influência
Atravessou a rua de mãos dadas com os dois, cruzou a praça e já estava no portão do colégio. Primeiro dia na escola nova, na cidade nova... Quer dizer, nova para eles, porque ali já tinha passado muitas vezes a tal da História. Ao deixá-los com a professora, perguntou:
- Que horário devo buscá-los?
- As aulas acabam cinco horas. Mas nós servimos sopa, então seria melhor tu deixares para pegar os guris cinco e meia.
- Eles não gostam de sopa. Venho às cinco horas mesmo.
- Eles não gostavam! - Disse a professora confiante. - Venha cinco e meia. Com todas as outras crianças comendo os guris aprenderão a gostar.
- Tudo bem. Cinco e meia. - Respondeu a mãe desacreditada.
Foram-se as horas, o sol cruzou o céu, a mãe atravessou a rua, cruzou a praça e chegou de novo ao colégio. Chegando lá, os dois já estavam esperando na porta, junto com a professora que os recebeu. A professora se aproximou da mãe e começou a falar:
- Eu queria te pedir um favor.
- Qual?
- Se puderes buscá-los às cinco horas, seria melhor.
- Por quê? Não quiseram sopa? - Perguntou a mãe com um leve tom irônico.
- Não só não quiseram como fizeram tanta cara de nojo, que algumas das outras crianças pararam de comer.
- Que horário devo buscá-los?
- As aulas acabam cinco horas. Mas nós servimos sopa, então seria melhor tu deixares para pegar os guris cinco e meia.
- Eles não gostam de sopa. Venho às cinco horas mesmo.
- Eles não gostavam! - Disse a professora confiante. - Venha cinco e meia. Com todas as outras crianças comendo os guris aprenderão a gostar.
- Tudo bem. Cinco e meia. - Respondeu a mãe desacreditada.
Foram-se as horas, o sol cruzou o céu, a mãe atravessou a rua, cruzou a praça e chegou de novo ao colégio. Chegando lá, os dois já estavam esperando na porta, junto com a professora que os recebeu. A professora se aproximou da mãe e começou a falar:
- Eu queria te pedir um favor.
- Qual?
- Se puderes buscá-los às cinco horas, seria melhor.
- Por quê? Não quiseram sopa? - Perguntou a mãe com um leve tom irônico.
- Não só não quiseram como fizeram tanta cara de nojo, que algumas das outras crianças pararam de comer.
19 de janeiro de 2006
18 de janeiro de 2006
O conto do conto
O conto nasceu assim: o pai dos contos plantava sementes de criatividade e os contos brotavam delas. Quando o conto nasceu, um contou para o outro, o outro contou para outro, este outro para outro, outro e assim foi. O conto veio depois da conta, mas o contador das contas veio bem depois do contador dos contos.
Certo dia o conto começou a ficar bem falado, gente importante começou a escrever sobre ele e, quando foi perceber, já estava estampado por livros, revistas e jornais. Sucesso de público e crítica, o conto fez história. O conto pregava que quem corre atrás consegue. Ele conseguiu, ganhou prêmios e tudo o mais. Estava vivendo um conto de fadas.
Mas o inevitável aconteceu: tudo que sobe tem que descer. O conto começou a se envolver com drogas, sexo e carnificinas. Passava a noite na taverna, envolvia-se em brigas, participava de rituais e organizava orgias de fazer inveja ao marquês dos contos proibidos.
Antigamente, o conto tinha um discurso de moralismo bem próximo das fábulas. Agora, não respeitava mais nada nem ninguém. Tornou-se intolerante e atacava, a golpes de machado, as igrejas, os governos, os santos e as putas. E o problema agravou-se quando o conto se vendeu: passou a defender qualquer causa ou pessoa com intenções duvidosas por apenas alguns contos.
Quando o conto começou a ficar mal falado, qualquer um contava o conto como se fosse um conto qualquer e contavam um conto qualquer como se fosse o conto. Os amigos foram se afastando na mesma medida que a fama ia acabando. Os que ficaram: nos dedos se contava.
E o conto acabou sozinho, quando percebeu que havia caído em um conto: o conto do conto.
Certo dia o conto começou a ficar bem falado, gente importante começou a escrever sobre ele e, quando foi perceber, já estava estampado por livros, revistas e jornais. Sucesso de público e crítica, o conto fez história. O conto pregava que quem corre atrás consegue. Ele conseguiu, ganhou prêmios e tudo o mais. Estava vivendo um conto de fadas.
Mas o inevitável aconteceu: tudo que sobe tem que descer. O conto começou a se envolver com drogas, sexo e carnificinas. Passava a noite na taverna, envolvia-se em brigas, participava de rituais e organizava orgias de fazer inveja ao marquês dos contos proibidos.
Antigamente, o conto tinha um discurso de moralismo bem próximo das fábulas. Agora, não respeitava mais nada nem ninguém. Tornou-se intolerante e atacava, a golpes de machado, as igrejas, os governos, os santos e as putas. E o problema agravou-se quando o conto se vendeu: passou a defender qualquer causa ou pessoa com intenções duvidosas por apenas alguns contos.
Quando o conto começou a ficar mal falado, qualquer um contava o conto como se fosse um conto qualquer e contavam um conto qualquer como se fosse o conto. Os amigos foram se afastando na mesma medida que a fama ia acabando. Os que ficaram: nos dedos se contava.
E o conto acabou sozinho, quando percebeu que havia caído em um conto: o conto do conto.
17 de janeiro de 2006
Pessoas imaginárias
Assim como os números
Elas têm uma parte real
E uma parte imaginária
A parte imaginária
Apesar de simples
É chamada de complexa
Possuem infinitas casas depois da vírgula
Infinitas possibilidades
Não se restringem ao que é mensurável
Previsível
Comum
Indivisíveis
Incomparáveis
Invariavelmente interessantes
Adaptam-se aos reais
Aos naturais
Aos primos, amigos, irmãos
Também criam seus próprios conjuntos
Criam seus mundos
Seus cálculos
E suas respostas
Não seguem muitos padrões
Regras
Tabuadas
Transtornadas
Incorfomadas
Normalmente flexíveis
Pessoas que adicionam
E que multiplicam
Crescem em progressão geométrica
Indescritíveis
E, exatamente por isso,
Eternamente seguidas pelas reticências ...
Elas têm uma parte real
E uma parte imaginária
A parte imaginária
Apesar de simples
É chamada de complexa
Possuem infinitas casas depois da vírgula
Infinitas possibilidades
Não se restringem ao que é mensurável
Previsível
Comum
Indivisíveis
Incomparáveis
Invariavelmente interessantes
Adaptam-se aos reais
Aos naturais
Aos primos, amigos, irmãos
Também criam seus próprios conjuntos
Criam seus mundos
Seus cálculos
E suas respostas
Não seguem muitos padrões
Regras
Tabuadas
Transtornadas
Incorfomadas
Normalmente flexíveis
Pessoas que adicionam
E que multiplicam
Crescem em progressão geométrica
Indescritíveis
E, exatamente por isso,
Eternamente seguidas pelas reticências ...
16 de janeiro de 2006
Meio cansado
Incomoda discutir porque tudo já foi falado
E é tudo óbvio
É tudo boçal e pedante
E, principalmente, não tem mesinha de metal dobrável nem cerveja
E é tudo óbvio
É tudo boçal e pedante
E, principalmente, não tem mesinha de metal dobrável nem cerveja
15 de janeiro de 2006
14 de janeiro de 2006
Ironia
Queria comprovar o quanto cada pessoa é insignificante. Resolveu, aleatoriamente, atear fogo ao próprio.
Morreu.
Foi martirizado e virou herói. Comprovou a incoerência.
Morreu.
Foi martirizado e virou herói. Comprovou a incoerência.
13 de janeiro de 2006
Conceitos
Perfeito significa "feito com começo e fim"
Infinitos finais e infinitos começos
Infinitas chances de se tornar algo melhor
E infinitas chances de se tornar algo pior
Somos todos perfeitos
Infinitos finais e infinitos começos
Infinitas chances de se tornar algo melhor
E infinitas chances de se tornar algo pior
Somos todos perfeitos
12 de janeiro de 2006
Revendo
Amar é gostar muito, querer passar muitos momentos juntos, não tem prazo de validade nem contra-indicações.
Simples assim.
Simples assim.
11 de janeiro de 2006
Evolução dos meios
No início, caçavam, coletavam e viviam em bandos.
Depois, aprenderam a plantar e a colher. Começaram a ver que podiam domesticar e alimentar os animais. Descobriram que plantando mais podiam alimentar e criar mais animais. Surgiu o excesso e com ele veio o comércio.
Descobriram então que podiam domesticar e alimentar as outras pessoas e que essas pessoas podiam produzir os alimentos e cuidar dos animais.
E assim foi.
Depois, aprenderam a plantar e a colher. Começaram a ver que podiam domesticar e alimentar os animais. Descobriram que plantando mais podiam alimentar e criar mais animais. Surgiu o excesso e com ele veio o comércio.
Descobriram então que podiam domesticar e alimentar as outras pessoas e que essas pessoas podiam produzir os alimentos e cuidar dos animais.
E assim foi.
10 de janeiro de 2006
Má notícia
- Minha filha, sente-se aqui. Tenho que contar uma coisa.
A garota sentou, de olhos bem abertos e boca entreaberta. Já imaginando o que estava por vir.
- Você lembra que há algum tempo eu falei sobre alguém que estava muito doente?
A menina, agora um pouco mais triste, fez sinal de positivo com a cabeça.
- Ele faleceu hoje pela manhã, enquanto você estava na escola.
A garota não conseguiu conter algumas lágrimas, a mãe a abraçou e continuou falando:
- Essas coisas acontecem. Foi melhor assim. Ele estava velho, sofrendo e já tinha perdido mais da metade da visão.
- Mas eu gostava dele! - Exclamou a garota indignada.
- Todos nós o amávamos, mas não havia nada que pudéssemos fazer.
- E onde ele está agora? Eu quero ver ele.
- Achamos melhor que você não o visse daquele jeito, é melhor que guarde lembranças dele vivo e feliz.
- Mas o que fizeram com ele?
- O papai o embrulhou em um cobertor velho e enterrou na beirada do lago, perto daquela árvore que ele tanto gostava.
- Aquela que a gente sempre ia?
- Sim, aquela que se enche de flores roxas na primavera, bem ao lado de onde costumávamos ir pescar.
- Então ele deve estar feliz.
- Provavelmente. Mas por que você diz isso? - Disse a mãe, um pouco surpresa com a frase da filha.
- Ele me contou que foi lá que ele conheceu a vovó.
A mãe ficou sem palavras. Neste momento, o avô entrou na sala:
- Minha netinha querida, não chore! O vovô compra outro gatinho para você.
A garota começou a soluçar de tanto chorar.
A garota sentou, de olhos bem abertos e boca entreaberta. Já imaginando o que estava por vir.
- Você lembra que há algum tempo eu falei sobre alguém que estava muito doente?
A menina, agora um pouco mais triste, fez sinal de positivo com a cabeça.
- Ele faleceu hoje pela manhã, enquanto você estava na escola.
A garota não conseguiu conter algumas lágrimas, a mãe a abraçou e continuou falando:
- Essas coisas acontecem. Foi melhor assim. Ele estava velho, sofrendo e já tinha perdido mais da metade da visão.
- Mas eu gostava dele! - Exclamou a garota indignada.
- Todos nós o amávamos, mas não havia nada que pudéssemos fazer.
- E onde ele está agora? Eu quero ver ele.
- Achamos melhor que você não o visse daquele jeito, é melhor que guarde lembranças dele vivo e feliz.
- Mas o que fizeram com ele?
- O papai o embrulhou em um cobertor velho e enterrou na beirada do lago, perto daquela árvore que ele tanto gostava.
- Aquela que a gente sempre ia?
- Sim, aquela que se enche de flores roxas na primavera, bem ao lado de onde costumávamos ir pescar.
- Então ele deve estar feliz.
- Provavelmente. Mas por que você diz isso? - Disse a mãe, um pouco surpresa com a frase da filha.
- Ele me contou que foi lá que ele conheceu a vovó.
A mãe ficou sem palavras. Neste momento, o avô entrou na sala:
- Minha netinha querida, não chore! O vovô compra outro gatinho para você.
A garota começou a soluçar de tanto chorar.
9 de janeiro de 2006
Experiência interessante
Eu aqui escrevendo
E nós dividindo o momento
Eu no que agora é passado
E você aí, no presente
E nós dividindo o momento
Eu no que agora é passado
E você aí, no presente
8 de janeiro de 2006
7 de janeiro de 2006
Traumas da insônia
Uma tia veio de longe para nos visitar. Na época morávamos em um apartamento bem no centro, era um apartamento pequeno, um quarto, uma suíte e não consigo nem me lembrar dos outros cômodos. A tia ia dormir na sala, já que não havia outro espaço que pudesse ser destinado aos hóspedes.
No meio da noite acordei e, com toda a coragem que eu tinha aos meus três anos de idade, fui sozinho pelo corredor com a intenção de chegar à cozinha para beber um copo de água. Nunca cheguei até a cozinha. Voltei correndo para o quarto, me cobri bem e fiz um esforço sobre-humano para não dormir.
No dia seguinte surpreendi minha mãe com a seguinte pergunta:
- Mãe, tem gente que quando dorme vira monstro?
Minha mãe riu. Minha tia roncava.
No meio da noite acordei e, com toda a coragem que eu tinha aos meus três anos de idade, fui sozinho pelo corredor com a intenção de chegar à cozinha para beber um copo de água. Nunca cheguei até a cozinha. Voltei correndo para o quarto, me cobri bem e fiz um esforço sobre-humano para não dormir.
No dia seguinte surpreendi minha mãe com a seguinte pergunta:
- Mãe, tem gente que quando dorme vira monstro?
Minha mãe riu. Minha tia roncava.
6 de janeiro de 2006
Ecologia humana
Somos mais irracionais do que o quanto nossa razão costuma nos fazer acreditar que somos.
5 de janeiro de 2006
Funcionou
- Eu vim até aqui, cruzei toda a festa, larguei meus amigos e provavelmente não vou encontrá-los novamente. Por que vim? Para te falar um oi e para me expor ao mundo como o sujeito ridículo que eu sou para depois perguntar seu nome e telefone, dependendo da reação ao oi e ao que viesse depois.
- Ahn?
- Sabia que você não era tudo aquilo que eu esperava... Adeus!
- Ahn?
- Sabia que você não era tudo aquilo que eu esperava... Adeus!
4 de janeiro de 2006
3 de janeiro de 2006
2 de janeiro de 2006
1 de janeiro de 2006
É assim
Você pode ajudar,
mas não pode resolver
Pode até colaborar,
mas não dá pra fazer
Pode divagar,
mas não consegue concluir
mas não pode resolver
Pode até colaborar,
mas não dá pra fazer
Pode divagar,
mas não consegue concluir
-
O triste retrato da cidade enlouquecida a ambulância detida no descaso do tráfego
-
Tal qual a nata que era como se julgava ela não se misturava Com ares um tanto blasé apenas flutuava, pomposa sentindo-se a dona do lago
-
No centro do auditório, a justiça permanece sentada e vendada, enquanto o apresentador aponta para um político corrupto, depois para um ladr...