Após cinco meses de privações - a aposentadoria mal dava para aluguel e comida, que dirá os remédios e os pequenos desejos, finalmente conseguiu juntar a quantia que precisava. Resgatou do fundo do armário o embrulho da camisa do natal passado - transformado então na sacola das economias, contou novamente todas as moedas, para ter certeza de que não havia se equivocado na última contagem, e dirigiu-se à rua da Alfândega, pólo das lojas de cacarecos chineses, tecidos e roupas.
Ao entrar na loja, lembrou-se do sol invadindo-lhe o quarto todo dia pela manhã, dos faróis dos carros da rua iluminando o teto durante a noite e de todas as tentativas desesperadas e frustradas de pendurar algum lençol, toalha ou qualquer outra coisa na janela. Quando a vendedora perguntou se poderia ajudar, respondeu entusiasmado - vislumbrando seu lugar à sombra:
- Eu quero a melhor cortina que você puder me arrumar a preço justo.
E completou, enfático:
- E nada dessas persianas, raladores de luz! Que dessas porcarias eu já tive, não funciona e ainda quebra!
Exercícios literários e outras peças mal acabadas que não são adequadas para o comércio como produtos culturais.
13 de agosto de 2010
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O triste retrato da cidade enlouquecida a ambulância detida no descaso do tráfego
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O isqueiro acende a chama Ilumina o olhar Mas fica na vontade Nem ao menos chega perto Do calor da boca
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Saiu de casa cedo, com um caderno velho nas mãos, revisando os últimos detalhes. Na mochila: uma garrafa de água, duas barras de chocolate e...
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