Espelho da rotina
reflete a realidade
até que alguém a liga
Exercícios literários e outras peças mal acabadas que não são adequadas para o comércio como produtos culturais.
31 de agosto de 2010
30 de agosto de 2010
27 de agosto de 2010
26 de agosto de 2010
24 de agosto de 2010
Absolvidos
Ao final do julgamento, levando em conta a insuficiência das faculdades, e o notável estado de inconsciência, decidiram que a população não tinha culpa alguma
20 de agosto de 2010
Subexistência
Bem, sabe como é trabalhar na terra por esses dias: a parte que me cabia já estava pra lá de apertada. Eu não dava mais conta de tirar o sustento da família daquele pedaço de terra. Até daria se a minha senhora não fosse tão firme na exigência dos garotos irem à escola todo santo dia, ao invés de ficarem por lá me ajudando. Se não bastasse isso, cada dia tinha uma doença nova na lavoura e, juntinho com ela, aparecia logo um novo "defensivo agrícola", coisa que na minha época a gente chamava de veneno mesmo, mas vai entender esse mundo. Falando nisso, depois que vieram essas doideiras do clima então, aí é que não brotava mais nem capim para dar de comer ao bode. Não tive outra solução, consegui o melhor preço possível na terra - aquele punhadinho de pouca coisa que a gente chamava de casa - e partimos para a capital, mentindo para os meninos que lá havia de ser bem melhor para os estudos e que, logo logo, voltaríamos para a nossa terrinha. E foi mais ou menos isso. Um pouquinho mais, na verdade, porque eu resumi, mas cá estamos e eu, para ser bem sincero, estou um pouco aliviado. Acho que tomei o rumo certo. E você, como está?
19 de agosto de 2010
Engano
- Alô!
- Boa tarde, o senhor Seixas encontra-se?
- Quem quer falar com ele?
- Falo em nome do Banco Rio Sul.
- E por que é que não pode falar comigo?
- Desculpe-me, senhora, mas devo falar diretamente com o senhor Seixas.
- Olha aqui, mocinha, tudo que é do interesse do Alberto é também do meu interesse. Saiba você que sou a senhora Seixas e que, apesar de ainda não ter passado tudo no papel, somos muito bem casados!
- Peço desculpas novamente, mas eu preciso falar com o senhor Seixas, temos alguns assuntos para resolver e, para isso, preciso que ele confirme alguns dados, senhora.
- Não me chame de senhora, mocinha. Eu devo ter quase a sua idade!
- Desculpe, mas foi a senhora...
- Senhora não!
- Desculpe. Foi você que me disse que era a senhora Seixas.
- Era e ainda sou!
- Tudo bem, mas, ainda assim, preciso conversar com o senhor Seixas.
- Mas quanta insistência, trate logo desse tal "assunto", seja ele qual for, comigo mesma. Afinal de contas, o que é que você precisa? Deu algum problema no cartão? Alguma coisa nos investimentos? O que foi?
- Trata-se de uma dívida, senhora.
- O que foi que você disse?
- Desculpe novamente, não tive a intenção.
- Não, não isso. Você disse que tem uma dívida?
- Sim, senhora! Eu trabalho na área de cobranças. O saldo devedor do senhor Seixas está acima do tolerável pelas políticas da empresa há alguns meses. Por isso estamos ligando para informar que os cartões serão suspensos se não negociarmos esta dívida.
- Ah, mas isso você que resolva lá com aquele traste. Eu não tenho nada a ver com esse sujeitinho!
- Boa tarde, o senhor Seixas encontra-se?
- Quem quer falar com ele?
- Falo em nome do Banco Rio Sul.
- E por que é que não pode falar comigo?
- Desculpe-me, senhora, mas devo falar diretamente com o senhor Seixas.
- Olha aqui, mocinha, tudo que é do interesse do Alberto é também do meu interesse. Saiba você que sou a senhora Seixas e que, apesar de ainda não ter passado tudo no papel, somos muito bem casados!
- Peço desculpas novamente, mas eu preciso falar com o senhor Seixas, temos alguns assuntos para resolver e, para isso, preciso que ele confirme alguns dados, senhora.
- Não me chame de senhora, mocinha. Eu devo ter quase a sua idade!
- Desculpe, mas foi a senhora...
- Senhora não!
- Desculpe. Foi você que me disse que era a senhora Seixas.
- Era e ainda sou!
- Tudo bem, mas, ainda assim, preciso conversar com o senhor Seixas.
- Mas quanta insistência, trate logo desse tal "assunto", seja ele qual for, comigo mesma. Afinal de contas, o que é que você precisa? Deu algum problema no cartão? Alguma coisa nos investimentos? O que foi?
- Trata-se de uma dívida, senhora.
- O que foi que você disse?
- Desculpe novamente, não tive a intenção.
- Não, não isso. Você disse que tem uma dívida?
- Sim, senhora! Eu trabalho na área de cobranças. O saldo devedor do senhor Seixas está acima do tolerável pelas políticas da empresa há alguns meses. Por isso estamos ligando para informar que os cartões serão suspensos se não negociarmos esta dívida.
- Ah, mas isso você que resolva lá com aquele traste. Eu não tenho nada a ver com esse sujeitinho!
18 de agosto de 2010
Quero-queros
Ao nascer do sol, o bando de quero-queros posiciona-se em círculo, de maneira que todos aproveitam ao máximo o brilho daquele momento
Algumas horas depois, aglomeradas, as pessoas lutam entre si por um lugar ao sol - apenas para criarem sombras
Algumas horas depois, aglomeradas, as pessoas lutam entre si por um lugar ao sol - apenas para criarem sombras
17 de agosto de 2010
Volátil
As revoltas de hoje em dia são qualquer coisa parecida com álcool em pratos de vidro
Altamente inflamáveis, mas nunca afetam o que está em volta
E além disso, muitas vezes nem se consomem, evaporam
Altamente inflamáveis, mas nunca afetam o que está em volta
E além disso, muitas vezes nem se consomem, evaporam
16 de agosto de 2010
Insensível
Diante do inverno rigoroso
com a porta bem fechada
e abafadas pela ducha
até as paredes choram
com a porta bem fechada
e abafadas pela ducha
até as paredes choram
13 de agosto de 2010
Realizado
Após cinco meses de privações - a aposentadoria mal dava para aluguel e comida, que dirá os remédios e os pequenos desejos, finalmente conseguiu juntar a quantia que precisava. Resgatou do fundo do armário o embrulho da camisa do natal passado - transformado então na sacola das economias, contou novamente todas as moedas, para ter certeza de que não havia se equivocado na última contagem, e dirigiu-se à rua da Alfândega, pólo das lojas de cacarecos chineses, tecidos e roupas.
Ao entrar na loja, lembrou-se do sol invadindo-lhe o quarto todo dia pela manhã, dos faróis dos carros da rua iluminando o teto durante a noite e de todas as tentativas desesperadas e frustradas de pendurar algum lençol, toalha ou qualquer outra coisa na janela. Quando a vendedora perguntou se poderia ajudar, respondeu entusiasmado - vislumbrando seu lugar à sombra:
- Eu quero a melhor cortina que você puder me arrumar a preço justo.
E completou, enfático:
- E nada dessas persianas, raladores de luz! Que dessas porcarias eu já tive, não funciona e ainda quebra!
Ao entrar na loja, lembrou-se do sol invadindo-lhe o quarto todo dia pela manhã, dos faróis dos carros da rua iluminando o teto durante a noite e de todas as tentativas desesperadas e frustradas de pendurar algum lençol, toalha ou qualquer outra coisa na janela. Quando a vendedora perguntou se poderia ajudar, respondeu entusiasmado - vislumbrando seu lugar à sombra:
- Eu quero a melhor cortina que você puder me arrumar a preço justo.
E completou, enfático:
- E nada dessas persianas, raladores de luz! Que dessas porcarias eu já tive, não funciona e ainda quebra!
12 de agosto de 2010
11 de agosto de 2010
Bonsai
A cada vez que ousava ultrapassar seus limites, acabava sendo podado pela raiz
Com o tempo, além de não produzir frutos, suas folhas ficaram secas e amareladas
Imaturo, incapaz de libertar-se do próprio vaso, definhou ali mesmo, no sofá da casa dos pais
Com o tempo, além de não produzir frutos, suas folhas ficaram secas e amareladas
Imaturo, incapaz de libertar-se do próprio vaso, definhou ali mesmo, no sofá da casa dos pais
10 de agosto de 2010
Atraentes
Aqueles olhos interesseiros percorreram toda a mobília, antes mesmo de chegar à sala. Ao depararem-se com os talheres de prata, quase deixaram de reparar na prataria e nas taças
Sentiram-se em casa, no lar que queriam para seus deleites. Enfim, decididos, começaram a seduzir aqueles olhos tolos, apaixonados, na outra ponta da mesa
Sentiram-se em casa, no lar que queriam para seus deleites. Enfim, decididos, começaram a seduzir aqueles olhos tolos, apaixonados, na outra ponta da mesa
9 de agosto de 2010
6 de agosto de 2010
5 de agosto de 2010
3 de agosto de 2010
Fachada
Comprometo-me pela causa
nas capas de revista
No entanto, desconheço
as reais consequências
da minha falta de ação
nas capas de revista
No entanto, desconheço
as reais consequências
da minha falta de ação
2 de agosto de 2010
-
O triste retrato da cidade enlouquecida a ambulância detida no descaso do tráfego
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Tal qual a nata que era como se julgava ela não se misturava Com ares um tanto blasé apenas flutuava, pomposa sentindo-se a dona do lago
-
No centro do auditório, a justiça permanece sentada e vendada, enquanto o apresentador aponta para um político corrupto, depois para um ladr...