26 de agosto de 2015

Contenda

Na beira da trilha, encoberto pelo mato descuidado, mantinha o cutelo sobre o peito, acompanhando a respiração em ritmo lento, mas firme. Ele estava decidido, pois sabia que era o certo, a única coisa a se fazer, e que só ele podia dar cabo do sujeito e do caso.

Nuvens espessas cobriam o céu e a chuva anunciada caiu junto com a noite. Não se via mais de alguns palmos diante dos olhos quando lá adiante, na curva do rio, uma lamparina rompeu a escuridão a trote lento, formando uma auréola no arredor da silhueta única, fundida, de montaria e sujeito. Só podia ser ele.

A respiração acelerou-se, ofegante, dando vida e movimento a empunhadura do cutelo, sólida, de madeira de lei. Lentamente, espreitando sobre a vegetação, levantou-se e caminhou, sobre o lamaçal e as poças que se formavam, em direção à trilha. A lamparina continuava aproximando-se, contínua e lentamente. A respiração, a duras penas, estava contida. Daquela distância, já era possível notar na silhueta um chapéu e uma foice. A mão do cutelo, para não tremer, permanecia recostada ao peito. O momento se aproximava.

Naquele instante crítico, pesou-lhe a indecisão: atacar de frente, correndo o risco de um deslize potencialmente fatal, ou dar-lhe a volta e investir pelas costas, vingativo e certeiro? Mas não teve tempo de arrazoar estratégias. Quando estavam a pouco mais de dez metros de distância, eis que um raio irrompeu as trevas. O lampejo não durou mais do que o suficiente para refletir o cenário armado.

Após o clarão, a montaria arisca relinchou, empinou e escoiceou. A lamparina espatifou-se no chão. Um grito alucinado se fez ouvir junto ao trovão que rebentava. E o sangue, emanando em golfadas, lavou o chão junto à chuva.

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