O sapatinho do bebê jazia no meio da rua enquanto ele permanecia estático, em estado de choque.
Os outros membros da família estavam sendo carregados para a calçada pelos vizinhos que se aproximavam. Dois dos corpos já estavam cobertos por panos improvisados. Incrédulo, ele observava a cena, esfregava os olhos e passava as mãos nervosas pelos cabelos.
Enquanto uma multidão de curiosos aproximava-se, atraída pela freada, pela pancada no ponto de ônibus e pelos gritos, ele permanecia perdido em seus próprios pensamentos. A consciência lhe transbordava, dando ânsias e tonturas. Decidiu sentar-se e, após retornar ao banco do motorista, abaixou a cabeça e tentou segurar entre dedos trêmulos o turbilhão de ideias e o peso da culpa.
Naquele momento, pensou: “Como é que eu vou viver com isso?”. A primeira batida seca dissipou a dúvida. Os gritos da multidão abafaram quaisquer outros questionamentos:
- Assassino!
2012 - Selecionado no 3º Concurso de Microcontos de Jundiaí - Secretaria de Cultura - Jundiaí - SP
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