25 de outubro de 2012

As margens trágicas de um povo histórico

Após séculos de genocídio e exclusão, que desaguaram na marginalização, os autoproclamados senhores da ordem e do progresso não se contentaram

E ansiavam, de pistolas e canetas em punho, por expulsá-los até mesmo das margens

24 de outubro de 2012

Arredios

Correu de braços abertos, tentando agarrar ao menos um - qualquer que fosse, mas não adiantou

Ao abrir os olhos, restava apenas um farfalhar de sonhos ao vento

23 de outubro de 2012

22 de outubro de 2012

Em carne viva

Indefesa, diante do toque impróprio - e indelicado, sangrou

Pela chaga aberta, por memórias nefastas, escorreu a vida inteira, gota a gota: tortura diária

20 de outubro de 2012

Barbárie

O sapatinho do bebê jazia no meio da rua enquanto ele permanecia estático, em estado de choque.

Os outros membros da família estavam sendo carregados para a calçada pelos vizinhos que se aproximavam. Dois dos corpos já estavam cobertos por panos improvisados. Incrédulo, ele observava a cena, esfregava os olhos e passava as mãos nervosas pelos cabelos.

Enquanto uma multidão de curiosos aproximava-se, atraída pela freada, pela pancada no ponto de ônibus e pelos gritos, ele permanecia perdido em seus próprios pensamentos. A consciência lhe transbordava, dando ânsias e tonturas. Decidiu sentar-se e, após retornar ao banco do motorista, abaixou a cabeça e tentou segurar entre dedos trêmulos o turbilhão de ideias e o peso da culpa.

Naquele momento, pensou: “Como é que eu vou viver com isso?”. A primeira batida seca dissipou a dúvida. Os gritos da multidão abafaram quaisquer outros questionamentos:

- Assassino!







2012 - Selecionado no 3º Concurso de Microcontos de Jundiaí - Secretaria de Cultura - Jundiaí - SP

O vulto na cadeira vaga

No meio do caminho

havia duas pedras


de gelo


e uma dose generosa de saudades







2012 - Selecionada no Concurso Literário de Presidente Prudente - Secretaria Municipal de Cultura - Presidente Prudente - SP

8 de outubro de 2012

Traças

As traças devoraram livros
e destrincharam jornais

as traças roeram músicas
e mutilaram filmes

naquela época,
devoraram até pessoas
- famílias inteiras


Após anos de clausura
abriram-se as portas e janelas
os novos ares vieram

e as traças esconderam-se
em cantos obscuros
onde até hoje permanecem
- como se fossem invisíveis


Após anos de negação
continuamos adiando
para amanhã, quem sabe

a tarefa indispensável
de revirar armários
e destrancar gavetas

de explorar porões
- sem esquecer dos sótãos

de jogar luz aos fatos

descortinar as traças

para evitar que se repita
a tragédia como farsa








2012 - 1º lugar no VIII Concurso Literário de Suzano - Secretaria Municipal de Cultura - Suzano - SP

7 de outubro de 2012

Odisseu

Navego por mares errantes
- cansado de batalhas

em rumo a minha pátria
aos braços de minha amada

nascente de meus sonhos

poente de meus anseios