24 de novembro de 2011

Audácia

Pela primeira vez em trinta anos, ela olhou fundo, bem nos olhos do marido:

- Você que falou para o menino não se amiudar?

Ele ficou surpreso com a novidade do enfrentamento, corrigiu a postura e falou com ar superior e desleixado - como se respondesse só porque queria mesmo.

- Falei sim, filho meu não traz desaforo para casa!

Mordendo o lábio inferior e contraindo as quinas dos olhos, ela continuou:

- Não traz mesmo. E nunca mais vai trazer

Ele ainda tentou abraçá-la, mas o bote da mão esquerda o afastou daquele choro que era só dela.






2011 - 1º lugar no Concurso de Contos Machado de Assis - SESC - DF;
Será publicado na coletânea do concurso

5 comentários:

Marcio Nicolau disse...

Rodrigo: você é grande, sabe disso?

Diego Araújo da Rosa disse...

POUCAS palavras que dizem MUITA coisa.
Show de bola!

Parabéns pelo blog.

Rodrigo Domit disse...

grato pelos comentários!

tenho grande carinho por este filhote...


abraços,

Carlos Mantega disse...

Qual e mensagem principal que queria passar? Ficou muito bom

Rodrigo Domit disse...

só queria contar uma história, Carlos

a mensagem, principalmente nas prosas curtíssimas, fica a cargo de quem lê


um grande abraço
e obrigado pelo comentário!

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