26 de julho de 2007

Pela rua

- Lá vem você de novo com esse sorriso de mulher fácil.

- Fácil mesmo.

- Bom que admite. Pecadora.

- Difícil deve ser olhar para essa sua cara de cu.

25 de julho de 2007

Idade das trevas

Foi-se, há muito tempo
O tempo em que a felicidade era compartilhada
E a tristeza comovia

Nesses novos tempos
A felicidade dos outros incomoda
E a tristeza...
A tristeza é alheia.

24 de julho de 2007

Todo dia

- Eu passo o dia todo esperando ela aparecer.

- Que triste isso...

- Não é triste não. Triste é quando ela não vem.

19 de julho de 2007

Invasão

De nada adianta expandir a mente

Se o terreno continua improdutivo

Mais vale um grão de subsistência

Que um latifúndio vazio

Sílabas limitaristas

Ao que ele respondeu em alto e bom tom:

- Vá contar as sílabas

poéticas, métricas, hipotéticas

no olho do seu cu!

16 de julho de 2007

O cão

Rodou pela rua mais escura e perigosa como se fosse seu território.

Rosnou para os carros, perseguiu as motos e atacou os pedestres.

Como todo macho rejeitado faria.


O cão 2


Perguntou-me se eu era possessivo.

Respondi que sim, desde o primeiro beijo até o momento em que rolo para o lado e me deito.


O cão 3


Dizem que não se deve olhar policial nos olhos.

Ele sente o medo.

Desesperança

Haviam começado o namoro há pouco tempo. Sorrisos, bicos, charmes e birras. Apelidos fofos e juras de amor.

Foi quando ele escreveu a carta de despedida, com a certeza de que a entregaria em breve. Sabia até os motivos da separação. Tinha tudo anotado, explicado, em palavras friamente selecionadas.

Nunca teve a chance de entregá-la.

10 de julho de 2007

Aqueles olhos

Aqueles olhos, em meio a tantos outros olhos e olhares.

Aqueles olhos que não olhavam de volta. Que pareciam perdidos em algum ponto entre a raiva e a decepção.

Aqueles olhos, lacrimejantes. Mas quem se importa? Ela é linda.

8 de julho de 2007

Sabia assobiar

Cabisbaixos, ambos, ele e o canário. Ele sentou-se na varanda, abaixo da gaiola e começou a assobiar, lenta e tristemente.

O canário, que até então nunca havia sequer piado, respondeu, com um canto rápido e alegre. Ele então sorriu, como nunca havia sorrido.

Não se sabe até hoje quem ensinou quem.

6 de julho de 2007

Conto de fadas

- Odeio fadas!
- Como você odeia fadas?
- Ah. Elas sempre aparecem com aquela coisa de deixar tudo perfeito... E não é assim que as coisas acontecem.
- Perfeito não, justo.
- Justo?
- Sim, justo. O próprio nome diz: contos de fadas, fairy tales, fairy é fair, justo, só que de um jeito mais carinhoso.
- Faz sentido.
- Contos de fadas terminam de um modo justo.
- É... Justo.

E viveram felizes para sempre.

4 de julho de 2007

Ela fugiu

No começo era papo de casal apaixonado, mas a fuga virou promessa.

Mas quando ela disse que fugiria comigo, não imaginei que fosse dessa maneira. Ela fugiu sim... E fugiu comigo, mas apenas com um pedaço meu. Fiquei desolado.

De início eu não sabia se foi por esquecimento ou de propósito, mas ela deixou aqui comigo um pedaço dela também. Guardei-o em uma caixa de sapatos, em cima do armário.

Um dia, entre goles e suspiros, peguei o tal pedaço... E descobri que não foi ao acaso. Encaixava direitinho... Na ausência do que ela levou.

1 de julho de 2007

Decepção

- E a borboleta?

- Fez um casulo e virou lagarta...

- Ah! Que pena.

- É... Acontece.

- Mas não se preocupe, tem muita borboleta no ar.