Após deparar-se
- com aquele livro
nem comer direito conseguia
passava horas a fio
ruminando poesias
Exercícios literários e outras peças mal acabadas que não são adequadas para o comércio como produtos culturais.
25 de janeiro de 2012
24 de janeiro de 2012
Extenuado
Partiu como uma brisa
um vento qualquer
de repente
sem que ninguém percebesse
parou de soprar
- em um último suspiro
um vento qualquer
de repente
sem que ninguém percebesse
parou de soprar
- em um último suspiro
20 de janeiro de 2012
19 de janeiro de 2012
Teatro Dulcina
Do fundo do teatro
acompanho cabeças que valsam
- de um lado a outro
em busca do melhor ângulo
Esta plateia quase plana
um tanto mal planejada
oferece em paralelo
este outro espetáculo
acompanho cabeças que valsam
- de um lado a outro
em busca do melhor ângulo
Esta plateia quase plana
um tanto mal planejada
oferece em paralelo
este outro espetáculo
18 de janeiro de 2012
O último olhar
No fim de seus dias
- no exílio injusto
trazia olhos de ressaca
amarelos e marejados
E tinha olheiras tão profundas
que lhe dragavam
- em rugas
o rosto todo
- no exílio injusto
trazia olhos de ressaca
amarelos e marejados
E tinha olheiras tão profundas
que lhe dragavam
- em rugas
o rosto todo
16 de janeiro de 2012
Correntes
O Rio corre
- em período de cheia
e arrasta os infortunados
desprovidos e desavisados
para além de suas margens
13 de janeiro de 2012
Ameaçado
Há clareiras onde havia ideias
e as fontes, poluídas
não inspiram qualquer confiança
o debate corre risco de extinção
e as fontes, poluídas
não inspiram qualquer confiança
o debate corre risco de extinção
12 de janeiro de 2012
11 de janeiro de 2012
10 de janeiro de 2012
Sonho ruim
Mãos ofegantes percorreram-lhe o entrepernas por baixo do lençol. Quando abriu os olhos, o pesadelo estava apenas começando.
Na manhã seguinte, mesa do café posta, a mãe desconversou:
- Foi apenas um sonho ruim
Na manhã seguinte, mesa do café posta, a mãe desconversou:
- Foi apenas um sonho ruim
9 de janeiro de 2012
Suspeitos
O sangue frio
percorria olhares foscos
não havia qualquer lampejo
- ou emoção
na sessão de linchamento
percorria olhares foscos
não havia qualquer lampejo
- ou emoção
na sessão de linchamento
6 de janeiro de 2012
5 de janeiro de 2012
3 de janeiro de 2012
2 de janeiro de 2012
Psicose
Nunca fui de confiar em gente sem pescoço, mas aquele era o único sujeito disposto a levar-me a um bairro tão próximo - no taxímetro dava menos de quinze reais e os motoristas que rondam a rodoviária costumam idealizar longas idas à zona sul, dando-se ao luxo de desprezar as corridas até o centro.
Ao abrir a porta traseira, reparei que estas poderiam ser mantidas trancadas pelo motorista. Prevendo um possível risco, deixei a mochila no banco de trás e sentei-me na frente. Era melhor mesmo estar perto, caso fosse necessário entrar em um combate corpo a corpo. Desde que entrou no carro, desleixado, sem nem colocar o cinto, fiquei de olhos nos movimentos daquele sujeito mal encarado, meio corcunda para o lado direito - o que deixava o lado esquerdo um pouco abaixado, de barba e bigode por fazer, com um daqueles chapéus que não sei dizer se é uma boina ou um boné sem aba.
Durante o trajeto, tentei ficar em silêncio, mas, após alguns minutos, ele puxou conversa. Com um grunhido emburrado, tentei puxar de volta, mas ele insistiu, achando que eu não tinha entendido, e eu cedi. Acabamos trocando duas ou três frases decoradas sobre a violência na cidade - no dia anterior haviam roubado um cara da TV e deu em tudo que é jornal, os bandidos não respeitavam mais ninguém. Apesar da conversa, eu ficava atento a cada mudança de marcha, quase me precipitei a impedi-lo quando ele foi pegar o rádio para entrar em contato com a central.
Após meu engano, fiquei relaxado por alguns momentos. No entanto, ao olhar pela janela, percebi que estávamos passando por um viaduto pelo qual não deveríamos passar - ao menos não pelo caminho que eu costumava fazer. Em um primeiro momento, cerrei os punhos e contrai cada músculo do corpo, pensei que ainda podíamos tomar o rumo certo, quem sabe cortando por trás do Passeio, ou pela Tiradentes. Mas foi então que ele começou a desacelerar, em pleno viaduto, local desconhecido e perigoso, afastado das ruas mais movimentadas. Eu precisava ser rápido, utilizando as armas que tivesse no momento - que se resumiam a uma caneta esferográfica e um pacote de balas de menta. Em um movimento só, tirei a caneta do bolso, apertei-a contra o pescoço do safado e ordenei que acelerasse. Surpreendido em pleno pulo, ele começou a acelerar e tentou retrucar, disse-me que tinha família e que só estava tentando ganhar a vida. Não me deixei levar por aquele choro falso. Além do mais, para cima de mim é que ele não a ganharia. Ao alcançar quase cem por hora, puxei o volante para o meu lado, com toda a força possível.
O carro bateu no muro de contenção - por muita sorte não caiu do viaduto - e ainda girou duas ou três vezes antes de ser atingido pelo carro que vinha logo atrás. Eu, que estava de cinto, saí praticamente ileso. O pilantra, no entanto, que já devia estar de tocaia, pronto para me aplicar algum de seus golpes, morreu na hora, dizem que quebrou o pescoço com o impacto no volante. Eu duvido muito, aquele bandido nem tinha pescoço.
2011 - III Concurso de Contos ler&Cia - Livrarias Curitiba - PR;
Publicado na edição de Janeiro/Fevereiro de 2012 da revista ler&Cia
Ilustrado por Robson Vilalba - http://robsonvilalba.carbonmade.com/
Ilustrado por Robson Vilalba - http://robsonvilalba.carbonmade.com/
1 de janeiro de 2012
-
O triste retrato da cidade enlouquecida a ambulância detida no descaso do tráfego
-
Tal qual a nata que era como se julgava ela não se misturava Com ares um tanto blasé apenas flutuava, pomposa sentindo-se a dona do lago
-
No centro do auditório, a justiça permanece sentada e vendada, enquanto o apresentador aponta para um político corrupto, depois para um ladr...